Eram 4 horas da manhã do dia 2 de fevereiro quando perdi o sono. Tinha dormido cedo, pois no dia seguinte teria trabalho e escola das crianças. Rotina normal se não fosse uma pandemia no meio do caminho. Pandemia essa que vinha passando despercebida nas esquinas, nas praças, nas calçadas e no dia a dia da maioria das pessoas. Menos nos hospitais!
Ainda estava escuro quando fui olhar as horas no celular e uma notificação me fez perder o sono. Passava das 22 horas quando o governador do Acre se pronunciou sobre a grave situação que muitos, para não dizer a maioria de nós, vinham ignorando: hospitais sobrecarregados e leitos quase todos ocupados. Como medida extrema para forçar a obediência, o que os insistentes pedidos e determinações não surtiram efeito a fim de evitar aglomerações, uso de máscara, proteger-se e não propagar ainda mais o coronavírus, o decreto de bandeira vermelha em todo estado.
No silêncio do alvorecer era quase possível ouvir as batidas descompensadas de meu coração, enquanto escrevia este texto. Na cabeça milhões de pensamentos. Um sentimento de medo e incertezas sobre a atual situação em que vivemos. Vejo uma luta mais contra a desobediência do que contra um vírus invisível e mortal. Gente debochando da pandemia, pessoas indo a festas, passeando sem máscaras e com total desrespeito. Não tem como romantizar e minimizar a culpa que nos cabe, como sociedade. Falhamos, e falhamos feio! Ninguém queria passar por isso. Mas estamos todos no mesmo mar, ainda que não estejamos no mesmo barco.
Que triste história teremos para contar no futuro. A desobediência sempre teve severas consequências, desde os tempos bíblicos, a exemplo de Adão e Eva. Estamos vivemos um século em que obedecer não é mais importante, uma geração do desafio, que não se importa se outros estão sendo massacrados por nossas atitudes. No cenário atual, o problema não é a desobediência, mas a conscientização de que precisamos obedecer para vencer a guerra contra o inimigo chamado coronavírus.
Vejo um governador em um esforço sobre-humano para que não chegássemos ao ponto em que chegamos. Um homem cansado, como muitas vezes presenciei e ouvi desabafando baixinho, mas sempre mantendo o espírito de liderança e se mostrando otimista por dias melhores.
Há uma passagem bíblica que diz que não deveríamos nos desviar nem para a direita nem para a esquerda, e onde estamos agora? A verdade é que nem sabemos. Estamos perdidos em uma pandemia, cada um vivendo como se não houvesse amanhã, e, pra muitos, ou melhor, para exatas 886 pessoas vítimas da Covid-19 no Acre, não houve mesmo. A desobediência custou vidas, ainda que não tenha sido a nossa.
Precisamos compreender até quanto a desobediência de uma só pessoa pode ter efeito sobre a humanidade. Lembre-se, a guerra não é entre nós, é contra o vírus. Portanto, apresento-me para a batalha.
Lane Valle é jornalista da Secretaria de Estado de Saúde